sexta-feira, 24 de setembro de 2010

famintos

um bicho que não mora no fundo do rio
nem vive embrenhado nas matas
mas pisando no asfalto entre muros e fachadas
um estand'arte ao relente

bicho medroso... corri do pau!
do Paulo Corrêa entre murros cacetadas e facadas
na ponte do homem, enquanto era revistado pelos zomi
olhei pra Passargada e pensei na outra
na do Bandeira, a verdadeira
- quanto vale a utopia, bicho?!

na praça dos Bois, quase virei capim
pisoteado por bípedes
na praça da Liberdade, quase tiraram-na de mim
- qual é a sua, bicho?!

em frente ao sagrado, o profano
avistado pelo homem santo digital acima do totem de metal
desnorteado no norte, matei minhas eternas esperanças
fumando minhas amargas reminiscências
na praça Eduardo Ribeiro, sem dinheiro
sem a dignidade dos moto-taxistas e tricicleiros
o bicho berrou por míseros trocados. nada!!!

trêmulo desci ao píer digital
olhei pra praça dos Comunas
mas eles não a frequentam mais
olhei pros bacanas digitais acima e se perguntou
- quem inventou os degraus sociais?!

ficou avistando os barcos no beiradão
levam e trazem, trazem e levam...
grana, dívidas, dúvidas
alimentos, lamentos e doentes

cansado, muito cansado da vida, bicho!
fiz muito coisa boa e muita coisa errada
só não aprendi a ser gente
a hipocritamente ser gente

ninguém valorizou o bicho que fui
fui muita coisa errada, mas também muita coisa boa
por que me destruí?! nunca respondi
nunca soube responder! não tive tempo
tempo pra mim, tempo como sinônimo de oportunidade
quando comecei a infringir as leis
logo taxaram-me de vagabundo!
desocupado! marginal! ladrão! maconheiro!
nunca me perguntaram quantas vezes por mês vou ao cinema
se já fui ao teatro e/ou ao museu alguma vez na vida
quantos livros eu leio por ano
e meus filhos, assim como eu, não sofrem diariamente fomes
além da de comida..., a falta de alimento pra cabeça

cansado de ser bicho, e antes que eu enlouqueça,
lanço-me ao corpo do rio

o nome do bicho era zé, mané, lelé,
só mais um como outro faminto qualquer
que as correntezas avarentes da vida levam o brio...

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