sexta-feira, 10 de setembro de 2010

drummond

a matéria orna nas obras
um extraordinário poeta

no plural

o mal do século
não é a violência
nem o racismo
nem o imperialismo
o mau uso da ciência
também não

não é o capitalismo
não é a cumplicidade
individual
nem a individualidade
social
não é o egoísmo

não é a falta de luz
nem o excesso de pus

não é o descompromisso
nem o fel por extenso
à carência de bom senso
também não

o mal do século
é um mundo com tudo isso
e muito mais... maus e males

o ladrão de galinha e os íssimos

íssimo honesto
não sei mentir
o resto é o povo
o resto vota nele de novo
o resto que trabalha
o resto que passa fome

a íssima não erra
vende suas falhas
até um cego vê
os fantasmas disfarçados
de homens

íssima empresa
o que não queremos ter
é o que consome
o resto explorado
dívidas, doenças
parasitas que não somem

o íssimo sálario
não pode ser analisado
que nossos laboratórios
estão precários
não tem microscópios
nem máquinas de clones

enquanto isso, a senhora de "preto"
nos acolhe ao jardim do adan

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

simbiose

olho no olho
boca na boca
entre-laços
u'n'outro

indo e vindo
doçura nervosa
fissura gostosa
indo e vindo

braços entrelaçados
pernas entrelaçadas
corpos suados

pulmões pesados
situações abençoadas
por dois safados

submundo

mundo submundo
sem fundo
fundo do poço
do pouco
muito do nada
manchas de sangue
pele e osso
só nó dó pó
corpos imundos
tristeza no olhar
beleza ao esboço
cortes profundos
vagabundos sãos
cães viramundos
aulto da vida
dentro do fosso

pacto colonial

colméia
que sociedade organizada!
a rainha reina
sobre o operariado
que não reina sobre ninguém
os zangões, súditos reais
imprescindíveis
à perpetuacão
que não fazem
quase nada
coitada a imperatriz,
sem ferrão, sem fertilidade
perdem a utilidade e a vida
as operárias
que fazem do néctar o mel
e a geleia real
que só trabalham
incansavelmente
morrem trabalhando
a rainha descansa por elas
enquanto a europa se unifica
e os poetas escrevem suas metáforas